quinta-feira, 6 de maio de 2010
Calcinha de algodão.
00:20 |
Postado por
Mina Vieira |
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(Não gosto deste texto. Então, se você nunca leu nada que eu escrevi, é melhor começar por algum outro.
Obrigada.)
Obrigada.)
Na TV, Truffaut nos dizia que o amor entre Antoine e Christine havia começado, finalmente. Bem no momento em que ele jogava o casaco dela na escada, impaciente por ter que esperá-la. Acho que Truffaut entendia muito bem de começos de amores. Nosso casaco estava apodrecendo em alguma escadaria escura desde março e eu a amava profundamente, até agora. No sofá oposto, ela tinha lágrimas escorrendo pela face e duas outras meio atrasadas ainda paradas bem dentro daqueles olhos escuros, que costumavam desaparecer depois de 3 cervejas. Sorri por dentro. Ela sempre chorava quando se lembrava do quanto me amava ou quando gozava demais ou quando cantava sorrindo uma música revolucionária ou uma outra cheia de teremins mágicos. Chorava vendo crianças bonitas, comendo mousse de chocolate, lendo Kundera. Só chorava pra reverenciar as coisas boas. Às ruins, reservava um silêncio amargo que nada combinava com seus trejeitos infantis. Então, mantive-me tranquilo e sorridente e passei meu pé grande e sujo na perninha fina dela. Ela se encolheu, eu me esqueci de perguntar o motivo.
- Quando você começou a me amar? Ela perguntou.
- Foi quando você teve a sua primeira gripe forte e eu fiquei com medo de você morrer.
Depois, já cansados e sonolentos, ela me arrastou pra cama. Ficou quieta durante todo o caminho. Às vezes, eu soltava a minha mão da mão dela e acariciava sua cintura fininha, meio querendo fazer cócegas. Ela me olhava nos olhos e sorria bem rapidinho, depois voltava a olhar pro chão e inventava no rosto uma expressão que mentia, que me dizia que ela nunca havia sorrido. Mas chegamos ao quarto, finalmente. Quieta, com cara de ofendida, tirou a roupa como sempre fazia antes de dormir, desabotoou o sutiã branco, vestiu um par de meias cinzas e velhas que eu há tempos não usava, se cobriu com os meus lençóis e veio deitando com as perninhas geladas no meio das minhas, peludas. De olhos fechados, senti uma língua se aproximando do meu ouvido e já me preparava, duro, para o desfecho usual das nossas noites.
- Eu sei quando você começou a me amar. Você começou a me amar quando esqueceu uma camisinha cheia de porra debaixo da cama e eu fingi que não vi. Começou a me amar quando eu ignorei as ligações femininas que chegavam pra você de madrugada, implorando pelo teu cacete. Me amou também quando eu tive gripe, claro, e quando gritou comigo, e quando escreveu que me amava no espelho do meu banheiro, e quando cozinhou para mim aquelas coisas de nome impronunciável, e quando gastou 50 minutos me amarrando, e quando trocou de cuecas porque eu disse que as que você andava usando eram feias, e quando me mandou calar a boca, e quando me chamou para morar com você, e quando entendeu o motivo de eu não aceitar, e quando disse que eu era a mulher da sua vida. Não há problemas. Já conversamos sobre isso e eu te perdoo por me amar nesses momentos insanos assim como tenho te perdoado tanto e com tanta sinceridade desde o seu primeiro deslize. Mas eu ainda não comecei a te amar. Eu pensava que te amava, mas notei que o amor que vem de mim pra você nunca teve começo. Eu nunca te traí, eu nunca nem levantei a voz pra você a não ser pra pedir tapas mais fortes e pra agradecê-los, mais tarde. Eu nunca puxei meus cabelos por você não atender o telefone e nunca quis te matar, nem te botar pra dormir no sofá, ao ver seus olhos fitando outras bundas. Eu sempre estive pouco me fodendo pra você. Você não entende nada sobre mim, você me trata como se fosse óbvio que eu vou te amar pra sempre e que vou respeitar todos os seus surtos e suas bebedeiras. E eu te digo que eu não vou. O primeiro tapa na cara que você me der enquanto não estivermos trepando e eu te mato, enfio uma faca bem no meio dessa sua barriga branca. Eu não sou boa, não. Essa voz meio trêmula que eu tenho é só disfarce. Os olhos doces também. Os pedidos de desculpa também. Todos falsos, eu nunca cheguei a achar que precisava ser perdoada.
E se esfregava, rebolava com aquela calcinha branca de algodão em cima do meu pau que insistia em continuar ereto. Eu estava com medo. Nunca a havia visto tão furiosa e sua voz nunca havia sido tão firme. Na verdade, ela sempre fora magra, branca, tímida e sem forças, mas agora estava semi-nua, empinando a bunda na minha direção, se esfregando em mim e ameaçando me matar.
- Não sei porque eu estou aqui, se não te amo. Mas é que você tem essa coisa, sabe? Você tem aquele cheiro todo natural de homem bom, tem uma pele quente e amarelada que não deixa o meu nariz se afastar, tem esse hálito sempre impecável e nunca com gosto de pasta de dente ao qual eu dificilmente conseguiria resistir. Tem essa língua sua. Essa língua tão destra e tão rápida, que sempre sabe a medida certa e conhece todos os meus cantos, meus escuros e os meus gostos mais secretos. Não resisto, também. Não resisto aos gemidos que você arranca de mim e a esse teu pau que tá durinho bem agora enquanto eu te ameaço de morte. Voce é louco, nêgo, de se manter perto enquanto eu falo meus absurdos. E se um dia eu te matar, hã? E se me cansar das suas masculinidades todas e pendurar seus gatos nos fios lá da rua? Se esmagar suas bolas, botar fogo na sua casa, matar sua mãe e picotar seus filmes com uma tesoura bem afiada?
Eu queria responder. Eu queria falar um monte de coisas bonitas e dizer que eu ia esperar o amor dela por mim aparecer, mesmo que demorasse um milhão de anos. Queria falar que eu sabia que ela nunca faria nada contra os meus gatos porque ela gostava mais deles que de mim, e que minha língua estaria sempre rapidinha e quente pra quando ela quisesse e que eu me comportaria, juro, que mulher nenhuma se aproximaria de mim, se fosse esse o preço pra tê-la pra sempre. Que tudo bem se ela destruísse meus filmes, que eles nunca chegariam nem perto de ter a importância que ela tinha. Que se a casa pegar fogo, fazer o quê. Vamos dormir em outra, vamos pagar aluguel, vamos trabalhar mais horas por semana, vamos tolerar qualquer coisa em nome do amor. Eu falaria qualquer mentira pra arrancar logo aquela calcinha de algodão já cheia de bolinhas, aquelas de tecido meio velho. Mas ela me cortava. Mansa mansa, agora.
- Eu deveria estar vestida. Eu deveria estar toda vestida para me levantar da cama, pegar meu carro e ir embora daqui. Te deixar sozinho, pra você aprender. Eu não preciso ser amada assim, não, eu quero jogar essa merda que você me dá e diz que é amor num buraco bem fundo cheio de jacarés lá em baixo. Depois de você, eu não quero mais homens. São todos uns imbecis brutos que vomitam todas as frustrações em cima da gente e depois querem sempre um buraquinho quente para usar antes de dormir. Você é como eles, não é? Agora mesmo tá fingindo que me escuta e tá só pensando em quando essa falação toda vai acabar, em quando eu vou abrir as pernas pra fazermos as pazes, em quando eu vou dormir... Você tem sorte em ter esse pau obediente, aí. Estou nervosa, nem sei o que está me dando. Os filmes que você me mostra, também. Tudo tão bom. As coisas que vêm de você geralmente são muito boas, você sabe. Mas seus óculos não me enganam. Nem a barba, nem os tênis sujos. Você é como eles, quer levar minha vida embora e depois me deixar aqui toda seca e implorando pra você voltar. Vai, diz alguma coisa.
- Sua calcinha é linda.
- Sério?
- Aham.
- Mas tá tão velhinha...
- Eu gosto. É pequenininha, apertadinha. Já viu como sua bunda fica linda nela?
- Fica?
- Fica.
Mina Vieira.
- Quando você começou a me amar? Ela perguntou.
- Foi quando você teve a sua primeira gripe forte e eu fiquei com medo de você morrer.
Depois, já cansados e sonolentos, ela me arrastou pra cama. Ficou quieta durante todo o caminho. Às vezes, eu soltava a minha mão da mão dela e acariciava sua cintura fininha, meio querendo fazer cócegas. Ela me olhava nos olhos e sorria bem rapidinho, depois voltava a olhar pro chão e inventava no rosto uma expressão que mentia, que me dizia que ela nunca havia sorrido. Mas chegamos ao quarto, finalmente. Quieta, com cara de ofendida, tirou a roupa como sempre fazia antes de dormir, desabotoou o sutiã branco, vestiu um par de meias cinzas e velhas que eu há tempos não usava, se cobriu com os meus lençóis e veio deitando com as perninhas geladas no meio das minhas, peludas. De olhos fechados, senti uma língua se aproximando do meu ouvido e já me preparava, duro, para o desfecho usual das nossas noites.
- Eu sei quando você começou a me amar. Você começou a me amar quando esqueceu uma camisinha cheia de porra debaixo da cama e eu fingi que não vi. Começou a me amar quando eu ignorei as ligações femininas que chegavam pra você de madrugada, implorando pelo teu cacete. Me amou também quando eu tive gripe, claro, e quando gritou comigo, e quando escreveu que me amava no espelho do meu banheiro, e quando cozinhou para mim aquelas coisas de nome impronunciável, e quando gastou 50 minutos me amarrando, e quando trocou de cuecas porque eu disse que as que você andava usando eram feias, e quando me mandou calar a boca, e quando me chamou para morar com você, e quando entendeu o motivo de eu não aceitar, e quando disse que eu era a mulher da sua vida. Não há problemas. Já conversamos sobre isso e eu te perdoo por me amar nesses momentos insanos assim como tenho te perdoado tanto e com tanta sinceridade desde o seu primeiro deslize. Mas eu ainda não comecei a te amar. Eu pensava que te amava, mas notei que o amor que vem de mim pra você nunca teve começo. Eu nunca te traí, eu nunca nem levantei a voz pra você a não ser pra pedir tapas mais fortes e pra agradecê-los, mais tarde. Eu nunca puxei meus cabelos por você não atender o telefone e nunca quis te matar, nem te botar pra dormir no sofá, ao ver seus olhos fitando outras bundas. Eu sempre estive pouco me fodendo pra você. Você não entende nada sobre mim, você me trata como se fosse óbvio que eu vou te amar pra sempre e que vou respeitar todos os seus surtos e suas bebedeiras. E eu te digo que eu não vou. O primeiro tapa na cara que você me der enquanto não estivermos trepando e eu te mato, enfio uma faca bem no meio dessa sua barriga branca. Eu não sou boa, não. Essa voz meio trêmula que eu tenho é só disfarce. Os olhos doces também. Os pedidos de desculpa também. Todos falsos, eu nunca cheguei a achar que precisava ser perdoada.
E se esfregava, rebolava com aquela calcinha branca de algodão em cima do meu pau que insistia em continuar ereto. Eu estava com medo. Nunca a havia visto tão furiosa e sua voz nunca havia sido tão firme. Na verdade, ela sempre fora magra, branca, tímida e sem forças, mas agora estava semi-nua, empinando a bunda na minha direção, se esfregando em mim e ameaçando me matar.
- Não sei porque eu estou aqui, se não te amo. Mas é que você tem essa coisa, sabe? Você tem aquele cheiro todo natural de homem bom, tem uma pele quente e amarelada que não deixa o meu nariz se afastar, tem esse hálito sempre impecável e nunca com gosto de pasta de dente ao qual eu dificilmente conseguiria resistir. Tem essa língua sua. Essa língua tão destra e tão rápida, que sempre sabe a medida certa e conhece todos os meus cantos, meus escuros e os meus gostos mais secretos. Não resisto, também. Não resisto aos gemidos que você arranca de mim e a esse teu pau que tá durinho bem agora enquanto eu te ameaço de morte. Voce é louco, nêgo, de se manter perto enquanto eu falo meus absurdos. E se um dia eu te matar, hã? E se me cansar das suas masculinidades todas e pendurar seus gatos nos fios lá da rua? Se esmagar suas bolas, botar fogo na sua casa, matar sua mãe e picotar seus filmes com uma tesoura bem afiada?
Eu queria responder. Eu queria falar um monte de coisas bonitas e dizer que eu ia esperar o amor dela por mim aparecer, mesmo que demorasse um milhão de anos. Queria falar que eu sabia que ela nunca faria nada contra os meus gatos porque ela gostava mais deles que de mim, e que minha língua estaria sempre rapidinha e quente pra quando ela quisesse e que eu me comportaria, juro, que mulher nenhuma se aproximaria de mim, se fosse esse o preço pra tê-la pra sempre. Que tudo bem se ela destruísse meus filmes, que eles nunca chegariam nem perto de ter a importância que ela tinha. Que se a casa pegar fogo, fazer o quê. Vamos dormir em outra, vamos pagar aluguel, vamos trabalhar mais horas por semana, vamos tolerar qualquer coisa em nome do amor. Eu falaria qualquer mentira pra arrancar logo aquela calcinha de algodão já cheia de bolinhas, aquelas de tecido meio velho. Mas ela me cortava. Mansa mansa, agora.
- Eu deveria estar vestida. Eu deveria estar toda vestida para me levantar da cama, pegar meu carro e ir embora daqui. Te deixar sozinho, pra você aprender. Eu não preciso ser amada assim, não, eu quero jogar essa merda que você me dá e diz que é amor num buraco bem fundo cheio de jacarés lá em baixo. Depois de você, eu não quero mais homens. São todos uns imbecis brutos que vomitam todas as frustrações em cima da gente e depois querem sempre um buraquinho quente para usar antes de dormir. Você é como eles, não é? Agora mesmo tá fingindo que me escuta e tá só pensando em quando essa falação toda vai acabar, em quando eu vou abrir as pernas pra fazermos as pazes, em quando eu vou dormir... Você tem sorte em ter esse pau obediente, aí. Estou nervosa, nem sei o que está me dando. Os filmes que você me mostra, também. Tudo tão bom. As coisas que vêm de você geralmente são muito boas, você sabe. Mas seus óculos não me enganam. Nem a barba, nem os tênis sujos. Você é como eles, quer levar minha vida embora e depois me deixar aqui toda seca e implorando pra você voltar. Vai, diz alguma coisa.
- Sua calcinha é linda.
- Sério?
- Aham.
- Mas tá tão velhinha...
- Eu gosto. É pequenininha, apertadinha. Já viu como sua bunda fica linda nela?
- Fica?
- Fica.
Mina Vieira.
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