segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Eles. (ou Um Texto a Raulzito e Timothy Leary)


Lutam contra o instinto, contra as vontades mais primordiais do ser humano, contra a expansão da mente, contra a busca de informações, contra o direito irrevogável de se buscar felicidade do nosso próprio jeito, contra a diferença, contra a singularidade, contra a beleza enorme que a individualidade de cada ser representa. Lutam contra as formas mais puras de amor, contra o sexo quando, como e com quem se tem vontade, contra as relações de afeto entre seres ditos incompatíveis, contra a simplicidade, contra a gentileza, contra a leveza de um mundo tolerante, contra o amor como a maior das medidas, contra o espírito, contra a paz interior, contra compartilhar o que estava aqui antes de nascermos, contra assumir que o mundo é de todos os indivíduos, contra o trânsito livre sem fronteiras ou passaporte. Lutam contra o fluxo livre de pessoas, contra a masturbação, contra o encontro, contra o engajamento, contra o desafio, contra a compreensão e o inconformismo, contra a perspicácia, contra a inocência das crianças, contra o fluxo de ideias que existe sem interferência dos meios de comunicação, contra a espontaneidade, contra a manualidade. Lutam contra Kerouac, Ginsberg, Burroughs, Thompson, Manson, Leary, Kesey, cabelos compridos, barbas sujas, calças rasgadas.


Lucram com guerra, com novela, com a venda de cigarro e álcool, com o tráfico de drogas, com bundas de mulheres gostosas, com cirurgias desumanas, com noticiários parciais de merda, com jornalismo que não se pode levar a sério, com a TV Globo, com tudo que é raso, com a inocência inerente ao ser humano, com a fragilidade, com a pouca instrução, com a Veja e a Marie Claire, com antidepressivos. Impõem confrontos entre pessoas pacíficas e outras pessoas pacíficas, censuram, coíbem movimentos revolucionários não-violentos, espionam, ameaçam, fazem uso de um regime de terror pré-histórico, submetem à escravidão indivíduos da mesma raça ou de raças inferiores, glorificam o materialismo, a posse, a riqueza, os dígitos na conta bancária. Condenam tudo que não seja cinza, odeiam cores ou pessoas que sorriem demais, baseiam-se num sistema podre de aparências e habilidades cênicas, matam os ricos, os pobres, os grandes, os pequenos, os jovens, os velhos. Matam, não importa quem. Correm contra seu próprio tempo, têm visão limitada e vida apenas física, julgam casamento a expressão de amor absoluta e infalível, proíbem o aborto, interferem em relações pessoais, associam amor livre à promiscuidade, açoitam, inventam deus e o diabo, condenam o trabalho intelectual, lobotomizam qualquer criatura potencialmente pensante, condenam a sexualidade. São um bando de chatos iguais e tediosos que odeiam sexo, odeiam a vida e odeiam a si próprios.

Mina Vieira.

1 comentários:

P. disse...

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