segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Meu tipo de pessoa.

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Não devia gostar de você. Por uma série de motivos muito sérios eu não devia gostar de você, mas eu gosto. Eu gosto porque se você não tivesse aparecido, minha vida estaria uma merda gigante, porque sem você eu seria muito mais fracassada do que sou agora. Eu teria me destruído quando descobri que não passei no vestibular se você não estivesse no telefone comigo, eu estaria metida em qualquer relacionamento totalmente auto-destrutivo e perigoso, chorando toda hora e lamentando o horror que é morar nessa cidade. Porque se tirar você de mim não sobra mais nada, nêgo, porque você é a constância que faz minha vida interessante e invejável, porque por enquanto eu posso me meter em qualquer inferno tendo a certeza de você existir pra me consertar. Você é toda a loucura que eu tenho, você dá vida a todas as insanidades que antes existiam apenas na minha cabeça, você faz minhas cores serem mais reais. Você é chato, reclama das minhas roupas e diz que eu tenho bebido demais. Eu digo que você é gay por ficar sacaneando as minhas roupas e eu tenho bebido porque você fica delicioso depois que toma umas doses de uísque e eu pensei que ficava também.

Você me incentiva de uma forma estranha: cada vez que eu ameaço evoluir é pra você, pra te deixar orgulhoso, pra entrar na categoria das mulheres de menos de 25 anos que são bem sucedidas e te excitam. Minha casa é uma merda, eu tô meio Frida hoje, perdi meu jeito comedido em alguma chateação do dia. Já escrevi e-mails desesperados por sua causa quando eu ainda não entendia e nem aceitava direito essa coisa de gostar com você com tanta força. Acabei cedendo logo, já que não há muito o que fazer quando uma coisa como nós decide acontecer. Foi uma coisa gigante, inevitável. A gente se encontrou e decidiu que era necessário resolvermos nossas vidas pra enfim ficarmos juntos. Não vou publicar isso, tá muito ruim. Isso vai ficar registrado nessa agenda velha de 2006 e alguém vai encontrar no meio das minhas coisas depois que morrermos velhinhos numa cadeira de balanço na varanda de casa. Foda-se que você vai morrer antes dos 30, foda-se que você não quer e não vai ficar velhinho nunca, foda-se que a Fly te deixou traumatizado. Foda-se. Você é o meu tipo de pessoa e eu adoraria ser o seu. Eu quebrei um coração dizendo que você era o meu tipo de pessoa, que você encaixava em mim e que, por isso, eu não conseguia me livrar de você. Você e seus filmes franceses, você e sua fotografia, você e seus cabelos desgrenhados, você e seu humor cinza chumbo, você e seu diastema, você e seus chinelos de couro, você e sua pouca paciência, você e sua voz de ressaca, você e os seus sonhos setentistas, você e sua Kombi, você e seu sebo, você e seus gatos: meu tipo de pessoa!

Adoro viajar com você, adoro demais. Com você é bom pescar lambari no escuro, é bom acordar cedo pra preparar um café surpresa, é bom tomar banho rapidinho antes que a água acabe, é bom deitar na grama suja e molhada enquanto a gente tenta se proteger com umas peças de roupa acidentalmente esquecidas na sua mochila. Meus sabonetes favoritos estão na sua casa, tenho mais absorventes aí do que aqui, meus melhores sonhos são sempre tidos nos seus travesseiros. Que ruim que eu sou tão nova , tão inexperiente e tão loquinha e não sirvo pra fazer crochê. Mas você é o meu tipo de pessoa: alguém que me coloca pra ouvir Hyldon no meio do mato e que guarda um filme pra abrir antes de morrer. Seu inglês de seriado é, de verdade, o melhor.

Mina Vieira.

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