quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Metrópole.


Minha cabeça dói. Aos poucos vou tentando abrir os olhos e me lembrar do que aconteceu ontem. Continuo parada, tenho medo de foder ainda mais a minha dor de cabeça se tentar me mexer. Porra, não lembro o que eu fiz ontem. Nunca esqueço das coisas... devo ter tomado alguma coisa muito doida. Finalmente abro os olhos e começo a tentar descobrir se é dia ou noite, se eu tenho que trabalhar ou se é domingo. A claridade que vem do teto me incomoda, meu hálito também. Tem um cheiro tão ruim saindo da minha boca que parece que vai durar pra sempre. Mau hálito eterno. Meus lençóis fedem tanto quanto a minha boca, talvez mais. Alguma coisa nojenta deve ter acontecido nessa cama. Apesar do nojo, desisto de tentar levantar. Afinal, seja dia ou noite, é tudo sempre uma merda. Estou sozinha nessa casa e nessa cidade que eu não entendo, andando por ruas que me confundem, comendo comida de procedência desconhecida, explodindo de dor de cabeça enquanto alguma coisa interessante tem que estar acontecendo no mundo lá fora. Minha casa está uma bagunça, sempre está. Mas me sinto feliz por pelo menos estar aqui. Sei que na cozinha tem a bebida que eu quiser. Porque não importa o quanto o meu salário seja curto, o dinheiro das bebidas precisa ser respeitado. Afinal, são elas que me fazem esquecer que meu salário é curto. Tem cerveja na geladeira, tem umas garrafas de uísque pela metade espalhadas pela sala, tem uns vinhos guardados, tem pinga também. Nem a ideia de um novo porre parece me curar. E eu nem sei porque tô assim. Talvez eu precise do que me deixou desmemoriada, da droga mágica que me fez esquecer tudo. Não sei onde conseguir drogas nessa cidade estranha. Não tenho o telefone de ninguém que saiba e não tenho carro pra sair andando por aí até encontrar. Mesmo que tivesse, não teria grana. Posso trocar um mês de comida por uns gramas de cocaína, mas nunca fui de pó. Podia sair procurando alguém pra trepar comigo. Lá onde eu morava tinha um cara que sempre me ajudava. Curava minhas tristezas, minhas crises, minhas ressacas, minhas dores de cabeça, minha eterna falta de dinheiro, meus problemas no trabalho, minhas frustrações mais imbecis e até mesmo esses meus surtos degradantes. Com um orgasmo só. Às vezes dois ou três, só por esporte, mas unzinho era capaz de mandar tudo embora. Mesmo que eu voltasse pra lá, ele não me curaria. Parece que vai casar, não sei. Engravidou uma menina aí e agora vai ter que ser rapaz direito. Só me resta rir. Queria uma prostituta qualquer, sei lá, mas não sei como essas coisas funcionam e também tô sem um puto na carteira. Vai ver entrei nessa loucura toda de agora porque ontem consegui alguém, finalmente. É muito difícil conseguir pessoas aqui e eu aposto que fiz merda, eu sempre faço. Olho no relógio e os números me fazem lembrar que meu ônibus vai passar em menos de 30 minutos e eu preciso trabalhar. Não lembro onde trabalho, caralho. Melhor ficar em casa e esperar até que as coisas voltem ao normal. Talvez eu ligue pra minha mãe.

Mina Vieira.

2 comentários:

Mina Vieira disse...

Teste

Anônimo disse...

Seu começo me lembrou este poema:

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2009/08/19/poema-esquisito-adelia-prado-209650.asp

É lindo, não?

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