segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Na cara.

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Nós somos de uma geração que já nasceu morta, como disse Caio. Nós somos de uma geração que esperou todo o mundo acontecer pra depois nascer. Nós chegamos depois do fim, nós chegamos quando tudo já era uma imensidão marrom e estática, sem portas ou qualquer outro tipo de entrada. Nós aterrizamos num mundo onde todas as coisas já aconteceram e que foi lacrado antes da nossa chegada que é pra ninguém bancar o engraçadinho.

E eu digo nós todos nós. Nós eu, com 17 anos. Nós P., com 25. Nós Patrix, nós Marcelo, nós Ariane, nós Pedro, nós vocês todos.

Nós nascemos numa terra que não dá pra plantar coisas, nós inventamos de nos instalar num lugar apertado demais pra voar, num lugar apertado demais sequer pra abrir os braços. Nós nos enfiamos num espaço-tempo que não permite, que simplesmente não permite qualquer coisa. Que vai podando o tempo inteiro, que vai mandando calar a boca, que vai te fazendo inalar um monte de éter e cair inconsciente pra depois acordar meio zonzo. A gente tá aqui, a gente tem a internet, a gente domina o Orkut, a gente tem milhares de celulares, a gente sabe dirigir e fala bonito e a gente se mete a escrever e a gente tem blogs, mas e aí?

E aí que metade de nós não consegue decidir que passo dar. E aí que a gente não consegue nem se alguém disser que não importa quanto dinheiro você precise pra aquela coisa, porque você vai ter. A gente não consegue nem se estiver mergulhado numa piscina de moedas de ouro, a gente não tem espaço pra fazer mais nada. Ninguém nos compra. Ninguém tá aqui me lendo e me achando fantástica e querendo publicar qualquer coisa do que eu escrevo.

Nós ficamos presos no adolescente foda que fomos. Temos todos 16 anos e estamos na sala de aula lendo algo que nenhum dos nossos colegas jamais vai ler. Estamos todos ouvindo nosso rock em nossos quartos e nos sentindo incompreendidos. Estamos todos aí nas ruas aprendendo a beber vodka e a transar irresponsavelmente. Estamos todos beijando pessoas do mesmo sexo e experimentando novas drogas e tocando violão com amigos cabeludos. Paramos aí, todos nós. Nós não conseguimos trabalhar, nós não conseguimos ter dinheiro, nós não conseguimos fazer nada útil com nossas ideias, nós temos essa coisa chata de parar a respiração na metade.

Mina Vieira.

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