segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Formiga, a inversão.

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Não quero viver esse sofrimento diário de ser ameaçado 2 ou 3 vezes por dia com ferro rubro, não quero a dor nas entranhas que acontece quando a gente é ameaçado assim e quero menos ainda ver meus pelos se arrepiando de medo. Eu tô aqui tendo uma vida feliz, acordando todos os dias e indo trabalhar com a certeza de ter você andando de calcinha pela casa e me esperando com a comida pronta mesmo depois de um dia mais cansativo que o meu. Eu tô aqui sendo feliz nessa imensa fazenda de formigas onde Deus é o adolescente nerd que nos observa, mas então Deus broxa ou se corta fazendo a barba e pronto, eu sou a formiga escolhida para ser derretida com um palito de fósforo que tem 723 vezes o meu tamanho. Depois eu tenho que voltar ao jantar e sorrir pra você toda linda carregando dentro de si todas as coisas bonitas que eu garimpei a vida toda. Mas eu tenho uma pata a menos, porra, eu sou um aleijado depois da brincadeira de Deus. Não vou sorrir ou vou sorrir feio e ela vai perguntar o que eu tenho. Não tenho, não tenho é paciência ou força pra ser feliz nessa fazenda sabendo que um dedo pode vir e me prender ao chão a qualquer momento ou me cegar com a luz infeliz de um palito de fósforo pra depois me queimar. Não tenho coração pra deixar de ser louco e não me odiar quando descubro cada passo seu que eu não assisti porque tava enchendo a cara de cachaça barata. Te amo, merda, te amo tanto que tenho que engolir a vontade de gritar toda vez que eu te vejo de calcinha porque eu tenho certeza que essa imagem de você é das mais bonitas que eu vou ver a vida toda, tanto que tenho que morder a língua até sangrar pra não sair te lambendo toda no meio do dia, te chupando até que você fique toda roxa. Imagem engraçada. Mas então, eu te amo e se você tiver mesmo toda a inteligência que eu acho que você tem, vai ser fácil de entender: não consigo respirar tranquilo te amando assim e podendo morrer de tanto ser ameaçado. Ataque cardíaco, AVC, infarto, susto. Ou então corrosão. Ou vou derretendo até ir embora pelo ralo do banheiro. Por isso eu tenho medo de te olhar, vai que eu olho pro lugar errado e alguém risca um palito de fósforo, hã? Já não abro as suas gavetas, já não viro as páginas dos seus livros, já não olho as suas paredes, já não presto atenção no que você fala e não quero mergulhar em você. Tem algo aí, tem algo prévio, algo que ocupa muito espaço, que te faz maciça. Vou sufocar, abre espaço. Tenho medo, mas tô aqui sendo feliz.

Mina Vieira.

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