segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Nós, as mulheres.

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A gente aprende a se contentar com os telefonemas apressados e obrigatórios de meio de caminho. A gente aprende a conviver com os horários estranhos e incômodos, porque é assim e só assim que pode ser. A gente entende o fato de ver fotos de outras pessoas onde deveria estar a nossa e aprende, mais tarde, a fingir que nunca nem chegou perto de ver qualquer coisa do tipo. A gente aprende a fingir rápido demais, por falar nisso. A gente aprende a fingir que tudo bem se submeter a isso e que tudo bem saber que os interesses do outro são tão desprezíveis e baixos quanto os seus. A gente aprende a fazer manha de leve, de um jeito bem sutil que não pareça cobrança e que talvez não faça o outro mudar de idéia, mas que o faça se arrepender assim que chegar em casa. A gente aprende a se empenhar para ser a compania mais agradábel que alguém pode ser, deixando de lado qualquer capricho infantil difícil demais de atender. E então a gente entende que tem que haver alguma maturidade no meio de tanta inconsequência e tenta fingir que é mais maduro do que realmente é. A gente finge que não espera, que não pensa, que não se preocupa. A gente entende que é isso que o outro quer e ele sempre deixou bem claro, então só nos cabe concordar ou dizer não. A gente se engana dizendo que não há ilusão ou pequenas promessas e que, mesmo que houvesse, a gente não ouviria. A gente interpreta racionalmente tudo o que vê e não pede coisas irrealizáveis. A gente pensa com clareza e não faz nada devagar demais para não se entregar à ternura e não perceber que existe um problema. A gente mente o tempo todo.

Mina Vieira.

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